sábado, 5 de outubro de 2013

Nevasca -- Terceira Parte [ Mariana ]

 O declínio me envolvia como em um abraço aconchegante, sentia fagulhas de gelo penetrar em mim.
 Minha calorosa alma ia adormecendo aos poucos. A voz do monstro ainda sussurrava em meus ouvidos, porém não conseguia mais relutar. Mais uma promessa, tropecei em outra bola de neve. Esta, aliás, me encobria até metade do tronco. Meu corpo pequeno era gradativamente anestesiado, as lembranças iam se prendendo à mim. As memórias projetavam-se cada vez mais reais e lentas na imensidão branca que me absorvia. Era um doce cair, um devaneio que cada vez mais delimitava meus limites. A nevasca aumentava, e eu conformava-me, quem sabe uma hora aquele gelo poderia derreter... Ou o mais certo e iminente ocorreria, ficaria presa por uma eternidade e meia congelada...
 Contudo, mesmo acreditando que não haveriam mais chances, uma figura materializava-se no horizonte gélido. Ao longe, um imponente homem caminhava à passos firmes, demostrava ser acostumado com esse gelo todo.Tinha uma enorme capa, era robusto e tinha em seu semblante sério um desespero contido. Consigo trazia um brilho peculiar, fosco porém destoante do meio. Se dúvida era provindo da nevasca, mas não totalmente...
 Aproximava-se em passos pesados e quase em câmera lenta, sentia aos poucos o frio castigar-me como se estivesse em um pesadelo. Ao ouvir os passos, o monstro da neve esbravejava em minha cabeça. Era ensurdecedor,  junto ao gelo traçava as últimas linhas de meu fim. Minha respiração tornou-se pesada, o ar tornara-se rarefeito em segundos. A tortura em meus ouvidos despertava-me, mas eu não queria acordar...
O cavaleiro desconhecido era breve, agora estava à dois passos de mim. Em seus olhos um enigma me surpreendia e devolvia-me lentamente o calor que haviam se esvaindo. Meu pequeno coração tentava pulsar como deveria, tremia de frio. A neve agora pesava em mim, senti um desconforto crescente, como se estivesse à sete palmos do chão. Minha mente configurou-se em um caos, o grito da fera da neve derrubava-me enquanto de alguma forma, o olhar do cavaleiro dava-me forças para livrar-me do gelo. Minha visão estava ficando turva, o belo cavaleiro tornava-se um borrão negro em meio ao horizonte branco...

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