quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Submersas -- Primeira Parte [ Mariana ]

   Debruçada sobre a janela do quarto. A tempestade desaba do outro lado do vidro frio. Cinquenta e um, cinquenta e dois… Conto uma a uma às gotas que escorrem pela janela. Droga de saudade, droga de culpa, droga de chuva. Eu queria ter feito diferente. Talvez agora eu estivesse lá, jogada no sofá e assistindo algo na televisão e não assistindo gotas de chuva se jogarem contra a janela.
   É sempre assim. Poderia. Nunca sei ao certo o que fazer. Toda vez que tenho que tomar uma decisão importante, digo que tanto faz. Vai no unidunitê mesmo. Não consigo achar a opção menos pior. Na hora tudo parece igual.
   E fica no tanto faz. Tanto faz falar, tanto faz sair, tanto faz nós dois. Acabo sendo colocada na estante, junto a todo resto a ser esquecido. Observo toda a movimentação na minha frente, mas tenho que ficar imóvel. As vezes me observam  perplexos, talvez por tamanha raridade.
   Cinquenta e sete, cinquenta e oito… Devo ser o enfeite mais estranho. Espero o ambiente estar totalmente vazio para secar as pequenas lágrimas. Tento escondê-las ao máximo, mas elas caem cada vez mais rápidas, a ponto de inundarem sua mesa lá em baixo.  Assim como inundam minha janela, meu corpo, minha alma, os sonhos perdidos, seu violão, nossos desenhos, os bailes de nossas cabeças, os livros jogados nos cantos.
   Essa tempestade acaba levando o que virá e molha tudo gradualmente.  A chuva desaba dentro de seu quarto. E tanto faz. Ela inunda as memórias e mergulhamos juntos. O passado passa pela nossa frente.
   Cinquenta e nove, sessenta…
   Sessenta e um.

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